domingo, 28 de agosto de 2011

A um mestre Alquimista


Nuvens de cores recortam-se em roupas
Desde véus bordados, o odor do incenso
Flores e folhas de lotus desenham-se
sobre a paisagem, delicada capa
Cessa todo o passo ao cantar dos pássaros
Abre-se a gaiola, é liberto o grou
Primavera: deitar-se, o teto é alto
só acordar à chuva, ao final da tarde.

Yu Xuang
Nota: http://pt.wikipedia.org/wiki/Yu_Xuanji

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O amor é uma companhia


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E vê menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.


Se a nao vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas,
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito
                                                 /do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol
                                                 /com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro


Nota 1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Caeiro
Nota2. Ilustração Lúcia Sousa (http://lusousadesign.blogspot.com)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tenho Medo de Perder a Maravilha



Tenho medo de perder a maravilha
de teus olhos de estátua e aquele acento
que de noite me imprime em plena face
de teu alento a solitária rosa.

Tenho pena de ser nesta ribeira
tronco sem ramos; e o que mais eu sinto
é não ter a flor, polpa, ou argila
para o gusano do meu sofrimento.

Se és o tesouro meu que oculto tenho
se és minha cruz e minha dor molhada,
se de teu senhorio sou o cão,

não me deixes perder o que ganhei
e as águas decora de teu rio
com as folhas do meu outono esquivo.

Nota 1. Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' (Tradução de Oscar Mendes)